terça-feira, 6 de setembro de 2011

CRASH - Parte 2


            Abro os olhos e volto a respirar.

Lentamente, vejo luzes passando por sobre minha cabeça e como um flash, sei de tudo. Ouço o médico dizer que eu acabara de voltar de uma parada cardíaca. Estavam preocupados com meu estado cerebral. Acalmem – se, estou aqui. Tentei falar e não consegui. Tentei me mover e não consegui. Então não estou aqui. Via e ouvia tudo. Estava sendo levado numa cama para o que certamente era uma sala de cirurgia. O que teria eu? Não sabia. Era um estado estanho, uma semi – morte: via e ouvia claramente e não podia fazer nada. Minha mulher caminhava ao lado da cama, continha o choro, mas eu sabia que ela sabia: não sairia dali vivo.
Eu há amava, nunca tivemos filhos, mas eu a amava. O filho é o ponto chave, ela sempre quisera e eu nunca preparado. Só meu amor não bastava para ela, e isso me incomodava, mas é a conseqüência natural das coisas, mulher quer ser mãe. E foi. Rompemos a mais de um ano e meio, e com toda sinceridade possível, disse: estou apaixonada por outro homem. Nada puder fazer a partir de então, deixei-a ir. Nunca superei. Desapareci, mas acompanhei sua vida de longe, quando soube de sua gravidez, sofri muito, mas tinha ilusão de que o seu amor por mim com a gravidez que tanto queria, fariam – na voltar para mim. Esperei ate o quinto mês do filho, que era menino e decidi então procura – la, depois de muito debate interno. Da decisão ate o fato, foram três meses, seriam mais se uma noticia não mudasse tudo. Ela se casaria. Isso já era muito, era o fim.
            Nego a dizer o que fiz para estar aqui nessa sala de cirurgia agora, já sei que vou morrer e então nada mais importa. Estou sendo entubado. 
           Vejo a mulher que amo pela ultima vez.

domingo, 4 de setembro de 2011

CRASH - Parte1



Fiquei muito tempo fora de combate, será que terei coragem de atirar? Sem ver o inimigo tenho coragem.
Saímos na neve. A brancura faz a cena insólita. Incrível não comparar a solidão da neve com o meu estado de espírito. Éramos vários, porém não havia comunhão entre nós. Sentíamos o cheiro da morte e isso nos apavorava tanto, que nada mais fazíamos ou sentíamos, a não ser caminhar e pensar na dor da bala perfurando nossos peitos.
Olhei para meu companheiro que caminha segurando a arma como se fosse um escudo e vi que em todos esses nove meses de treinamento, não sei se vão deixar filhos ou esposas. Agora não da mais tempo, e também nem sei como falar mais.
Sob ordens, começamos a nos distanciar uns dos outros. Logo à frente, vejo sob forte nevasca, uma floresta. O vento sopra mais forte e tudo desaparece. Mais uma ordem e tenho que entrar. Caminho a passos lentos, o terror toma conta do meu corpo. Penso em correr. Idéia mais ridícula. Não a fuga real na guerra. Se saísse correndo, talvez fosse alvejado mais rápido por um dos meus companheiros do que se continuasse. Curiosidade e dignidade também me instigam, a arma me reconhece como um dos seus. Recebo as ordens e com aquela calma neurótica do momento onde não há mais volta, entro.
Tento não fazer barulhos, não sei quantos e onde estão. Sei apenas que muitos já morreram nessa guerra e o fato de que talvez eu fosse mais um comia minha mente. A neve dificultava as coisas. A floresta era aberta e a luz penetrava com facilidade, porem a neve caia forte e o vento..., um barulho. Me abaixo e vejo um deles caminhando na mesma direção que eu.  
Na minha mira. Posso acabar com ele agora, se eu quiser. O momento é esse.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Infelizmente minha adolescência acabou.


Uma vez identificado que não era o lugar e sim meu corpo que se deslocara no tempo/espaço, resolvi mudar de cidade. Claro que não nego que sempre tive o sonho caipira de morar em uma cidade maior, quiçá grande. Já que é assim e não negando que sonhos devem prevalecer, estou hoje na Terra Prometida.
 Moro sozinho, como os fatos assim se propuseram. Penso que alguém que não consegue ficar sozinho é por que não se suporta.
Na verdade não penso isso, li em algum post por ai.
Solidão é um estado relativo. Consigo ir ao cinema sozinho à noite.
Sai de minha mãe para isso, para a solidão. Ela força nos reencontrarmos e nada mais que isso. Não continue achando que com o despertar da piedade alheia terás reconhecimento.
Engraçado que não houve alarde. Fui um verdadeiro suicida, aquele que não avisa.

Criança Vegana

          … deu 4 e 70 senhora… obrigado… . …sua sacola rasgou pode deixar que eu vou  ajudar… . …muito obrigado moço… …senhor… . … e como v...