CRASH - Parte1



Fiquei muito tempo fora de combate, será que terei coragem de atirar? Sem ver o inimigo tenho coragem.
Saímos na neve. A brancura faz a cena insólita. Incrível não comparar a solidão da neve com o meu estado de espírito. Éramos vários, porém não havia comunhão entre nós. Sentíamos o cheiro da morte e isso nos apavorava tanto, que nada mais fazíamos ou sentíamos, a não ser caminhar e pensar na dor da bala perfurando nossos peitos.
Olhei para meu companheiro que caminha segurando a arma como se fosse um escudo e vi que em todos esses nove meses de treinamento, não sei se vão deixar filhos ou esposas. Agora não da mais tempo, e também nem sei como falar mais.
Sob ordens, começamos a nos distanciar uns dos outros. Logo à frente, vejo sob forte nevasca, uma floresta. O vento sopra mais forte e tudo desaparece. Mais uma ordem e tenho que entrar. Caminho a passos lentos, o terror toma conta do meu corpo. Penso em correr. Idéia mais ridícula. Não a fuga real na guerra. Se saísse correndo, talvez fosse alvejado mais rápido por um dos meus companheiros do que se continuasse. Curiosidade e dignidade também me instigam, a arma me reconhece como um dos seus. Recebo as ordens e com aquela calma neurótica do momento onde não há mais volta, entro.
Tento não fazer barulhos, não sei quantos e onde estão. Sei apenas que muitos já morreram nessa guerra e o fato de que talvez eu fosse mais um comia minha mente. A neve dificultava as coisas. A floresta era aberta e a luz penetrava com facilidade, porem a neve caia forte e o vento..., um barulho. Me abaixo e vejo um deles caminhando na mesma direção que eu.  
Na minha mira. Posso acabar com ele agora, se eu quiser. O momento é esse.

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