Sai mais cedo e chovia muito. O bastante pra me seduzir. Todos
reclamavam e eu fazia um coro falso à voz vazia de todos. Quando não temos nada
há dizer de vemos definitivamente ficar quietos, acho. Impressionante sempre é
o assunte que surge em horários de contatos coletivos. De um tipo imortal e
irritante, porem indispensáveis para tal envolvimento necessário.
Mas que chovia! Chovia!
Já quase não ouvia mais nada. A chuva batia no teto do
barracão e fazia um barulho rachado. Uma cachoeira, sempre me lembra. Olhei em
volta e todos falavam ainda mesmo sabendo que não eram ouvidos. Imaginei em ir -
me esgueirando pelos toldos e bares ouvindo a conversa da agua caindo, suas
formas e vultos. Mal pensei e A. me
oferece uma carona irrecusável pela situação
Vamos -- respondi falsamente.
Viemos em quatro: desceu a primeira e quando pus o pé nela
pra pular para o banco da frente: senti sua força calma, refrescante.
- Vou ficar a mesmo
com a chuva – pensei em dizer.
Contive meu impulso. Pegaria mal. Não tanto assim. Penso. Porem
teria que dar explicações desnecessárias.
Fui o próximo. Soube quando desci do carro e eles não iriam
me ouvir. O quarto era longe do portão trancado e a cachorra escandalosa não viria
hoje latir pra me ajudar. Nem mesmo eu viria. Bati duas vezes e quase senti
meus vizinhos íntimos rirem por ninguém vir abrir.
Ridículo. Vou sentar e
esperar.
