Experimento Tx14 -01(vulgo T - 01)
Era
um dia mais que comum. Era um dia prêt-à- porter, dizia minha inteligência
inútil. Acordei em meu horário de costume: meia hora antes do despertador.
Quarto escuro. Já era hora de trabalhar. Moro numa espécie de cortiço dos
tempos modernos. Uma única entrada e vários quartos distribuídos por dois
corredores, dispostos em dois andares. Havia duas cozinhas comunitárias como
mínimo necessário para um macarrão instantâneo. Eu quase nunca as usava. A
esquerda da cozinha de onde vinha um cheiro de vinho azedo, dava acesso ao
corredor do quarto onde estava eu neste momento tentando me levantar. Minha
esperança é que esteja chovendo. Adoro a chuva. Como um compartilhamento divino
para meu eterno estado de espírito.
Era
apenas um quarto com banheiro. No começo, há quatro meses, achei a idéia boa,
vai ser bom para dormir: escuro... . Mas agora? Agora eu não suporto mais isso.
Uma sensação de sufoco. Uma caixa escura.
Duas
vezes adiado, não pude mais calar o despertador. Apesar da imensa vontade, eu
não podia deixar o trabalho e ficar na cama. Era incrível, mas acreditava
possível viver nesse quarto para sempre. Acho ainda, mas só quando estou aqui
dentro. Jogo-me na cama mais uma vez e decido ficar em casa de novo. Pra que ir
naquele trabalho idiota, conviver com pessoas idiotas. Se bem q o idiota sou eu
por continuar com tudo isso. Agora tenho q ir, terceiro alarme.
Atrasei.
O
banho era um momento bom, sentia a água batendo em minha nuca e de uma maneira
estranha me transmite paz e leva – me a minha infância. Imagino mais uma vez
que tudo pode mudar e que vai mudar. Mas como? Vem a duvida, por onde? Há três
dias estou trancado nesse quarto e não consigo sequer abrir a porta. Tento
enrolar no banho, mas tomo coragem e saio. Vou terminar tudo e sumir no mundo.
Desaparecer.
Então eu terei que sair.
Não ouço nada, minha mente esta
estática, não penso em nada.
Abro a porta e o ar refrescante
me da um gás. Leve. É noite já, pelo menos. O céu esta estrelado e uma leve
brisa bate no meu rosto agora que já sai na rua. Olhos para baixo e para cima e
não vejo ninguém. Posso ir em paz então. Pelo menos ate o quarteirão ultimo
antes do fatídico trabalho.
Penso em tudo, no caminho. Na
minha família, em o que estou fazendo nesse lugar, nesse planeta. Sinto-me um
adolescente pensando assim e culpo – me mais por isso. Meu Deus. Enlouqueço!
Com uma calma que beira a medo, atravesso a rua contendo – me. Um caminhão é
melhor... . Não será dessa vez. Continuo no percurso de costume, na esperança
de Deus estar sentadinho no banco da praça com um copo de coca cola e esperando
para conversar. Viro a esquina e ele não esta lá. Mas tem um homem acenando pra
mim.
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