Vejo a mim no
espelho.
Rugas que não
existiam da última vez… .
Manchas estranhas.
Sorriso fechado, com
vergonhas… .
Apenas meus olhos
salvam-me.
Grandes,
protuberantes e verdes,
Fazem me o favor de
tudo perceber
E demonstrar.
Meu farol.
Meu exemplo de
sinceridade.
De suposta
austeridade.
Nem penso e já está
ele lá, aqui,
Procurando, sabendo,
observando.
Confabulando,
deduzindo, conjecturando.
Ora sinistro como de
um vilão.
Ora cinza como de um
apaixonado.
Porteiras de minh’
alma.
Vejo a mim no
espelho.
Espelho da Vida.
Rio de cachoeira.
Parado, pronto para
tomar seu lugar,
Depois de anos,
estai-me defronte.
Sinto que só o
esperava.
Vivi apenas para
trazer essa carcaça que
por mais apenas um
pouco habitarei.
Lhe pertece, sei.
Somos idênticos.
Mesma face grave e
mutável.
Mesma voz de timbres
variáveis.
Mesma saudade do que
não conhecemos.
Os mesmos olhos.
Mas devo ser justo.
Tens mais coragem.
Tens mais brio.
Até amigos
consideras de verdade.
Talvez consigas o
que nunca consegui.
Talvez consigas o
Amor que sempre perdi.
Se cabes um pedido,
Como a todos os
finados:
Apenas espere
arrumar minhas tralhas.
Guardar meus
rancores.
Lavar meus amores
sujos
E já vou saindo.
Já podes ocupar seu
lugar.

