A anos venho ensaiando minha entrada na vida e creio que apareceu o
momento propício. Encontro – me já nas últmas reservas morais e
não sei até onde irei sem ser descoberto como um exímio
manipulador. Uma consciência de minhas obrigações tanto humanas,
no sentido coletivo como em meu âmbito familiar e particular tem
tomado todas minhas sensações.
Quero
ser um homem.
Ter
um carácter digno depende de um critério interno de valor
arbitrário das coisas. Sempre fui muito disperso e me escapam os
detalhes. Pela arrogância, desaprendi aprender. Não posso explicar
como cheguei ao cúmulo dos fatos. Impossivel que nunca tenha eu
observado de um alto de minhas viagens o estado real de minha vida.
Minha real inapetência para o ramo social. Sempre fui muito
sugestivo e sem autoestima alguma.
Perdi
o caminho, confesso.
Devo
desculpas, favores e dinheiro a vários. Ignorei regras sociais
basica e fui isolado do complexo sistema das probabilidades. Eu nunca
soube jogar, sentia – me especial e talvez isso se perdure até
hoje. Não citarei nomes que ao meu ver nada interessa, esta vergonha
é dirigida a mim, sem mais. Ei de convir que alguém mais a leia,
mas nada mudará o que fiz. E antes que a pena vos comisere, saibam
que não me arrependo mais de nada.
Mas
entendam. Houve causas. Perdi – me, como já dito.
Acho
que devo a mim uma segunda chance. Procurar aquele caminho solitário
da descoberta. Quero vida, porém a real.
Basta
de misturas, musicas ruins e dançantes. Pois essas são minha
fraqueza. Não resisto a uma dança. Quero viver a verdade, a paz no
coração, apenas não sei se isso é possivel.
Quero
mais. Ando descontente. Algo falta-me e sei o que. Falto-me a mim.
Não
sou quem sou.
Então
não quero ser qualquer homem.
Quero
ser eu, apenas.
Legítimo.
Perdoado. Esquecido.
Cara
feia limpa.
Pé
descalço pela terra.
Devo
ser humilde, acreditar no tempo e respeita-lo. Sentir o fliur das
energias das flores indicando que somos iguais, diferentes nas
formas, mas não nas essências.
E
digo: ontem uma borboleta pediu-me coragem. Não gostei a princípio,
dei-lhe de intrometida, nem sabia de nada e ali dando pitaco. Mas a
pobre tava sozinha também, iria morrer, era claro. Branca com
detalhes em vermelho e as pontas das asas negras. Umas finas linhas
pretas compunham um desenho estranho na parte interna. Era a
camuflagem, eu sei, porém vi uma mensagem, algo para mim e era isso:
o pedido de coragem. E naquela hora... .Nem perdi tempo demais nessa
divagalção. Voltei a beber e ter mal o estômago. Hoje que aqui
penso que talvez a agora linda borboleta só teve a mim em seu fim e
que morria feliz por ter cumprido sua missão na vida; transmitir-me
a mensagem e se algo devo a ela é cumprir seu desejo.
Nos
veremos em breve.
Considerem
ai minhas desculpas, faço por ela o que deveria ter feito a mim.