Quando completei dezessete anos, começou minha tortura:
sabia que dali a um ano teria que me apresentar no Exercito.
Um rito de passagem doloroso.
Meu pai. Antigo combatente da primeira guerra expunha com
orgulho sua cicatriz na perna direita: um tiro, disparado por um soldado
alemão, num confronto homem a homem ate no mínimo duvidoso, porém não menos que
fantástico. Nem o fato de te – lo deixado coxo minimizava sua admiração pela
guerra. Mesmo por que, era uma maneira de ele me ver crescer se aceito fosse e
ele acreditava que seria.
Eu de minha parte, nem sequer pensava mais nisso. Na minha
fértil imaginação, estavam todas as historias que os já passados e
afortunadamente dispensados, amigos contavam. Nunca acreditei totalmente, mas
sei que onde há fumaça..., há fogo!
Um jogo de futebol foi minha salvação ou então
enlouqueceria. O que pior que o dia de um acontecimento marcante senão sua véspera.
Não iria agüentar meu pai, que de um mês pra cá, vem relembrando mais historias
suas de guerra. Como sempre, nunca sei quais são verdadeiras.
Algumas eu já sabia. E ele as contava com os mesmo requintes
de detalhes, sendo essas as que eu mais duvidava. Eu era quase obrigado a
ouvir. Meu pai precisava que o olhasse nos olhos quando falava. Tinha olhos
penetrantes, mas tristes, acho que era o que tinha visto na guerra. Suas
historias era sempre interrompidas com suspiros.
Antes que ele começasse, disse para minha mãe à mesa do café
que iria ao jogo de futebol com meus amigos, estaria de volta ate o almoço.
Apesar do empenho de meus amigos em me distrair, o relógio regressivo
já começou. Faltam 22 horas. Meu Deus, preciso relaxar!
Começo ouvir a conversa de meus amigos e tento prestar mais atenção
ao jogo. O placar de três a zero nos era favorável e a conversa que meus amigos
tinham se referiam a uma menina nova no colégio. Entrara no meio do ano, pois
se acabara de se mudar com sua família para nossa pequena cidade. Estranhamente
essa conversa me prendeu a atenção. Senti uma curiosidade.
- Quem é ela? Disse meio
desinteressado.
- Olhe lá, que uma
menina nova desperta nosso principezinho do mal humor...
- Não sabemos, diz o
que estava de cá. Só sabemos que o nome dela é L.
Curiosidade uma pinóia, pergunto é por já te – la visto e me
sentido hipnotizado por seus olhos, que apenas passaram pelos meus.
L.. Esse era seu nome.
O jogo acaba, começa chover, o relógio cronológico, regressivo,
sei não, sei, marca 14 horas left. Pela idéia de L. existir, minha mente se
libertou da paranóia e nós agora éramos o trio novamente. Já tínhamos tomando
nossas bebidas secretas, levadas hoje, na minha mochila e riamos alto de tudo e
todos. A vida fluía bem novamente. Fumávamos nosso quarto cigarro quando ouvi
no nosso radio de pilha que oficialmente a guerra tinha sido declarada.
Sinto o abraço apertado, ouço os parabéns e a Boa Sorte que
recebi de meu pai quando cheguei de volta.